segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O Skrike



"O Grito" - Edvard Munch

Tenho um tantão de palavras não ditas emaranhadas no meu coração. Palavras ainda sem forma, porque no percurso entre o sentido, pensado e dito há uma complexa cadeia de produção. As vezes um fio escorre pela língua e algumas pessoas recebem com indiferença, outras como se uma tromba d'água despencasse sobre suas cabeças e outros como aquela poça suja que a gente pisa e se irrita por ter molhado as meias.

Elas vem deformes. Brutas e sem gingado. Densas. Não possui o contorno trabalhado daqueles que sabem esculpi-las e pô-las a mostra como sua obra de arte final. Seria o português a fôrma mal-feita para aquilo que queria ser dito? Encharcou-se de castelhano, embriagou-se de inglês, tocou no francês e bateu com a cara no norueguês até que de longe avistou o mandarim, mas ficou com os pés presos na lama que oferece o russo. Agora tinha palavras demais. Umas mais brutas que as outras. Algumas mais esclarecidas que poucas. Escorriam pesadas. Com grafia feia e combinação desastrosa.

Seria então necessário que se expressa-se num acolchoado de retalhos, daqueles que as vovós costumam fazer, com palavras que se aproximam do que desemaranha o coração?
Eu siento rare parce que ingen shi zhèli so mnoy.
Me feel alene avec tysyachi réri conmigo.
Queria ser calado em definitivo e não sofrer com tanto a dizer, sem saber como e sem saber porquê.

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