terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Nunca Saber Onde Podes Terminar





À quem se empolga e se sorve de insegurança cega


Suspirar e dar aquele passo largo num toco que flutua em um lago calmo, mas profundo. Errar o passo poderia ser um desastre, ou revelar um monte de terra que se inclina ao céu por sob a água. É divertido ter a inciativa e vencer o primeiro obstáculo. Desafiador alcançar o segundo toco. Seguro ainda estar perto da margem.

Há algo lá do outro lado. Parece que brilha pra mim, mas ainda não tenho certeza. Só sei que quero chegar e ver. E aquele frio no estômago ao alcançar metade do lago sobre um toco flutuante não muito firme. Era o jeito mais rápido! Se desse a volta demoraria e perderia de vista. O fato de nadar mal já salta por detrás dos meus olhos e projeta um Luiz hipotético na água sem saber o que fazer. As margens já estão longes e medo dá sabor à água escura.

Os pés molhados. O próximo toco parece tão longe. Mas o medo correndo pelo corpo paralisa e limita o movimento muscular. Quero chegar lá, mas daqui não consigo sair. Nem ouso olhar para trás ou para frente, que é pra não desequilibrar. Escuto o plano da fera ao fundo de como estraçalhar-me. Levar-me ao fundo do lago e nunca mais deixar-me ir.

Escuto o sussurro do vento dando-me alento. Encho uma vez mais os pulmões de ar e trato de focar no brilho dissimulado à minha frente. Levanto o pé e me inclino pra frente. Jogar-se ao azar e não saber onde vai terminar. Quem sabe há uma cidade secreta debaixo de toda aquela água? Poderia explorá-la caso lá seja meu destino. Poderia correr ao abraço do foco da minha atenção, caso o acaso me pusesse nesse caminho.

Então vou me levar. Nunca sabemos mesmo onde terminar! E se as feras me esperam à mesa para um banquete com elas próprias na escuridão das profundezas? E se o brilho acenante do outro lado não passa de um pedaço de lata esquecido por alguém depois de ser útil? E se eu mesmo nem aqui estou, senão largado em minha cama sonhando com alguma imagem do meu subconsciente?