domingo, 31 de agosto de 2014

Eu...





Pássaro tentando acordar seu parceiro já morto




Sou só um caco solto de um vitral maior,
Sou uma folha seca derradeira no vento frio,
Um grão de areia a quilômetros da praia,
Uma formiga perdida em terra de gigantes.

Tentei ser aquilo que nunca fui,
Tentei ser o melhor balão num quintal de espinhos,
Joguei-me a corrida dos grandes,
Com pernas tortas, curtas e magrelas.

Fui a formiga que comeu com tamanduás,
A presa fácil que correu mais rápido que a onça,
O pardal que atravessou o Atlântico,
E que nunca foi aquilo que deveria ser.

Tomo ódio do mundo por largos momentos,
Ao questionar porque o esforço dos grandes é menor que o seu
E transbordo minha ira em curtos silêncios
Porque dos meus braços delgados,
Só o afastamento é a grandiosidade condizente.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ignaras Vedetas




Hoje
andei na rua de megafone
a apregoar o teu nome
e o amor que sinto por ti.
Hoje
cuspi fogo à porta do metro
e entreguei mais de mil panfletos
e todos diziam assim:
Hoje o mundo venera
todo o destemido pateta
que faz pouco de si
E se eu for ignara vedeta,
será que na rua deserta
tu reparas em mim?
Hoje
declarei-me em todas as praças
grafitei na rua onde passas
"o meu amor passou aqui"
Hoje
fiz o pino e uma canção
e hei-de ir à televisão
só para que ouças assim:
Hoje o mundo venera
todo o destemido pateta
que faz pouco de si
E se eu for ignara vedeta,
será que na rua deserta
tu reparas em mim?
(Deolinda)