segunda-feira, 26 de maio de 2014

Folha Seca



Caia leve ao baile do vento
Seca e áspera como a pele de uma velha
Amarelo e marrom que se abraçam e se colorem
E com o mesmo pesar se posta a porta da minha casa
E boia na poça feita por mim
Que sentado na soleira não sentia, mas vinha

O olhar fixo na última de centenas
Que calafrios me subiam e aclaravam
As nuvens pesadas vinham em manada
E o vento cortante trazendo-a até minha frente
Que um dia invejou a árvore verde
Que hoje vê sua última folha morta

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Na Tal Segunda-Feira

A Tiso

Como macio sinto o toque
Aquele que me dá o enfoque
Em apenas uma parte da história
Tudo pode esperar
Porque mais perto da glória
Não há como chegar

A alegria que seu cheiro me traz
É a mesma que a meu tédio desfaz
E que ao sorriso que ali demonstra
Ilumina a quadra, o bairro, a nação
Soa-me como um mantra
Que só me interessa a fração

Que de mente ainda não entendo
E que do que não entendo, tenho medo
Mas que com medo, abraço-me ao apego
E me deito em cama de sossego
Pra despertá-me em outro dia, depois das dez e meia.

sábado, 3 de maio de 2014

Parte III

   Agora à luz da nova lua, que paira na escuridão quase perpétua, parece que vim desabafar mais uma vez. Entretanto quem lê? Ainda que ninguém eu me sinto bem, traduzindo em letras digitais (manuscrever me dá preguiça) o que não consigo em palavras faladas.
   Então parto do vislumbre de uma gaiola aberta, com um pássaro amedrontado habitando-a. Nunca sentiu o estar de fora, mas sonha com isso. Sonha com aquela portinha aberta e sabe que teria medo de passar. Mas e então? E então? O que impede?
   Passei a vida ali sabendo que a gaiola não era meu lugar. Empenhei-me em alegrar e abrilhantar a vida, de jeito sutil, dos outros. Mas a minha sempre esteve no fundo. Assentada com a minha caca. E no meu canto, por vezes, eu alertei o que sentia. E ninguém ouviu... Por outro lado, ouviram... E se deleitaram.
   Resolvi parar com a piação. Simplesmente curvei o pescoço sobre o peito e parei bem quetinho sobre o poleiro. Foi dai que desataram a tranca e ofereceram-me a "liberdade". Quando não era mais útil?

Lamentação de Um que Queria Correr Livre e Não Consegue, Porque as Amarras São Terrivelmente Fortes

Acorrentado e encadeado
Um mundo inteiro
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