sábado, 3 de maio de 2014

Parte III

   Agora à luz da nova lua, que paira na escuridão quase perpétua, parece que vim desabafar mais uma vez. Entretanto quem lê? Ainda que ninguém eu me sinto bem, traduzindo em letras digitais (manuscrever me dá preguiça) o que não consigo em palavras faladas.
   Então parto do vislumbre de uma gaiola aberta, com um pássaro amedrontado habitando-a. Nunca sentiu o estar de fora, mas sonha com isso. Sonha com aquela portinha aberta e sabe que teria medo de passar. Mas e então? E então? O que impede?
   Passei a vida ali sabendo que a gaiola não era meu lugar. Empenhei-me em alegrar e abrilhantar a vida, de jeito sutil, dos outros. Mas a minha sempre esteve no fundo. Assentada com a minha caca. E no meu canto, por vezes, eu alertei o que sentia. E ninguém ouviu... Por outro lado, ouviram... E se deleitaram.
   Resolvi parar com a piação. Simplesmente curvei o pescoço sobre o peito e parei bem quetinho sobre o poleiro. Foi dai que desataram a tranca e ofereceram-me a "liberdade". Quando não era mais útil?

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