Nunca se permitiu a gostar (ou amar) a quem ele andava de mãos. O senso de mediocridade o levava a aturar quem não o surpreendia e o olhar frio, o toque distante, findava qualquer chama que se levantava para consumi-lo. Ouvia nitidamente o coração alheio bater mais forte quando se aproximava, mas o seu sempre estava sintonizado no mudo. Dava-lhes o direito do desespero ou do desinteresse e não se incomodava. Virava as costas à primeira lágrima que se despontava na quina dos olhos. Pisava-lhes a ferida para desafiá-la a não escorrer pelas bochechas e terminar pingando do queixo.
Nunca se deu a chance de olhar para baixo e perceber que estava sobre um pedestal, que ele mesmo criou, com a corda enrolada ao pescoço. Olhava para todos ali de cima, sem saber o que fazer caso alguém se decidisse chutar o seu suporte dali. Mesmo que ninguém o observasse, preferiu se manter ali trocando palavras com dois ou três, mas nunca descendo a seus níveis. Tinha o medo emaranhado do profundo negro de suas pupilas, mas imprimia em sua cara uma indiferença sólida.
Sua cabeça gritava ao coração que o fizesse parar. De se portar como torre vigilante, quando se era ele próprio que se perdia. Perdia-se no nó dos pensamentos, no tsunami dos sentimentos e nas palavras de qualquer um. Queria não ouvir, mas ouvia demais.
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