Tenho sido um caos.
Resultado de sentimentos bruscos e emaranhados produzindo da boca o silêncio.
Um vendaval sem som.
Uma tempestade de céu limpo, sem compromisso com regar a vida da terra.
Ando sendo idioma sem uma única palavra.
Antes as manuseava como espada afiada e me divertia em dilacerar as entranhas dos amados e dos inimigos.
Mas hoje o oxigênio inspirado para pronunciá-las se perde em algum lugar e dá alento à coisas que a cabeça e o coração ainda não aprenderam a desenhar pros olhos verem - ou os olhos não entendem sua complexidade?
Na última semana fui o limbo entre o seguir ou parar.
Seguir no caminhar ou parar no correr.
Seguir no sonhar ou parar de respirar.
Fui a lágrima que quis escorrer, mas de tão triste não se esforçou.
Quis ser o morrer sem gosto de vida - aquela das páginas em branco antes desta.
Tenho sido cipó que se emaranhou nas flores de uma árvore bonita e as reclamou para si. Sabia que nunca seriam suas, mas lhe faziam soar mais bonito.
Tenho sido o que nunca quis ser. Tenho vivido por aquilo que nunca, de fato, quis ter.
Sou confusão, sou chorão, sou magrelo e fraco...
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que no encenar sua força óssea não despertou grande interesse alheio.
Sou a garrafa boiando em mar aberto, levando mensagem velha escrita em língua morta.
Sou o remorso por não ter se aventurado ____ do outro lado da rua, quando criança.
Sou a revolta por ter abaixado a cabeça quando falavam mais alto que eu.
Sou o fracasso por ter vivido para eles.
Sou todo o choro sem o drama do soluço.